domingo, 12 de março de 2017

A história e o uso dos calendários


Durante os séculos o ser humano sempre se preocupou em medir o tempo. A princípio por motivo agrícola e religioso. Estes métodos de medida do tempo nos regem até hoje. Perguntas como: Quantos anos você tem? O que vai fazer estes fim de semana? Quando será a viagem? São presas a forma como organizamos o tempo.


As unidades de tempo

Dia é o tempo necessário para o planeta Terra dar uma volta completa em torno de seu próprio eixo tendo o Sol como referência. Eis então a menor unidade de um calendário, o dia.

Genericamente, ano é o tempo de translação do planeta Terra em torno de sua estrela próxima, a saber o Sol. Como as estrelas apresentam um deriva ano a ano no espaço sideral só temos o valor exato da duração do ano devido a repetição de equinócios e/ou solstícios. A duração do ano é de 365 dias 5 horas 48 minutos e 45 segundos[1] (365.2421875 dias). Durante o ano ocorriam todos os fenômenos de influencia na agricultura, por isso saber predizer o tempo restante para o próximo solstício ou equinócio permitiria conhecer as datas de vigência das estações do ano.


Eclipse [espetacular] previsto para 12 de agosto de 2045.
Note que o movimento que a Terra faz do oeste para leste
(oposto do que vemos o Sol fazer sobre nós) é o mesmo
movimento da sombra projetada pela Lua[3].
O ano tem seus submúltiplos, como por exemplo os meses. O mês é o período em que a Lua leva para dar um volta em torno da Terra em relação ao Sol. Já que a Terra se desloca em sentido horário (do ponto de vista austral) e a Lua faz da mesma forma, permite que ao final de um ano a Lua tenha completado uma volta a menos. Isso pode ser observado muito bem em dias de eclipse solar, onde a Lua aparece no horizonte primeiro que o Sol, mas em algum momento é ultrapassado por ele. A translação da Lua é em média completada em 29 dias 12 horas 44 minutos e 3 segundos.[2]  (29.5305892 dias). Esta duração sofre variações pois a órbita da Lua é bastante elíptica e a órbita da Terra mesmo sendo suavemente elíptica faz com que se desloque a diferentes velocidades ao redor do Sol ao longo do ano.

Os dias da semana tem sua origem na religião. Desde os temos mais remotos do judaísmo a semana se firmava pela repetição do shabat, dia sagrado, a cada sete dias. Povos pagãos também davam significados religiosos aos dias da semana, oferecendo cada dia a um astro ou deus como homenagem. Semana é necessariamente um período de sete dias.

Na cultura greco-romana o primeiro dia da semana era dedicado ao Sol, o segundo a Lua, o terceiro a Marte, o quarto a Mercúrio, o quinto a Júpiter, o sexto a Vênus e o sétimo a Saturno. Tais referências podem ser encontradas nos dias de hoje nos idiomas alemão, inglês e espanhol.


Do Calendário Romano ao Calendário Juliano

Escultura do Imperador Júlio César.
http://www.ahistoria.com.br
O Calendário Romano tinha dez meses com 30 ou 31 dias que somavam 304 dias. Os dias necessários para completar o ano trópico não eram datados pois se passavam no inverno. O primeiro mês era Martius e o décimo era December. Qualquer semelhança não é mera coincidência. O Calendário Romano sofreu modificações até ficar com 12 meses, onde a duração de cada mês variou bastante cessando em 8 AC. No ano em questão o Imperador César Augusto renomeou o mês Sextilis para Augustus e retirou o 30º dia de Fevereiro e deu a seu mês de homenagem.

Anos antes, em 46 AC, Júlio César havia instituído que o mês de Fevereiro deveria receber um dia adicional a cada 4 anos, pois entendeu-se que os anos não tinha 365 dias, mas sim 365 dias e um quarto. Logo em seguida o Imperador Marco Antônio renomeou Quintilis para Iulius em homenagem a seu antecessor. Eis o Calendário Juliano.

O primeiro dia de cada mês era chamado de "calendas", e o dia anterior a este era chamado de "pridiem kalendas" (véspera da calenda) e assim retrospectivamente. Ainda quando Fevereiro variava de 29 a 30 dias o dia 24 de fevereiro era chamado de ante "diem septimum kalendas martias", ou seja, sétimo dia que antecede a calendae de Março. Da mesma forma o dia subsequente, 25 de fevereiro era chamado de "ante diem sextum kalendas martias", significando sexto dia que antecede a calenda e de Março. Quando o ano tinha 366 dias (pasmem!) havia dois dias chamados "ante diem sextum kalendas martias", ou seja, dois dias com o nome "sextum", logo um ano "bis sextum".

O surgimento do Calendário Gregoriano


Papa Gregório XII.
Os astrônomos do século XVI já vinham notando que o ano juliano apresentava distorções a longo prazo. Isso preocupou o papa Gregório XIII temendo pela realização errada de certos ritos católicos, como o dia da Páscoa. Astrônomos foram designados para descobrir uma duração mais exata do ano. E com a descoberta decidiu-se omitir o dia 29 de fevereiro em anos que terminassem em "00" desde que não fossem múltiplos de 400.

Essa mudança fez com que o mundo católico pulasse da quinta-feira dia 4 de outubro de 1582 para sexta-feira 15 de outubro de 1582, de acordo com a bula papal de 24 de fevereiro do mesmo ano. Isso explica porque os russos comemoram atualmente o Natal em 7 de janeiro. A Inglaterra adotou em 1752 o Calendário Gregoriano, de forma que o aniversário de sir Isaac Newton passou de um natal de 1942 para 4 de janeiro de 1943. Por tempos a data peculiar do nascimento de Newton foi usada como apoio para questionar sua real existência, que bem sabemos é verdadeira.

Os calendários Juliano e Gregoriano estiveram em sintonia apenas no século III, a partir de 1º de março de 201, e assim permaneceu até 28 de fevereiro de 300.

O Calendário Hindu e Etíope

O Calendário Hindu trata-se de um calendário solar com doze meses onde o primeiro mês tem seu primeiro dia em 21 ou 22 de março e recebe o dia complementar passando de 30 para 31 dias. Os meses até o sexto possuem 31 dias e os meses subsequentes recebem 30.

O Calendário Etíope, usado pela igreja Ortodoxa de Alexandria, compõe-se de 12 meses de 30 dias e um décimo terceiro mês, cujo o nome é sugestivamente Epagômeno, de 5 ou 6 dias seguindo a regra juliana.

Dificuldades de um calendário sincronizado

Tentando sincronizar os ciclos do Sol e da Lua os primeiros calendários eram lunissolares onde o ano começaria no primeiro novilúnio (tempo da lua nova) após um dos equinócios. Isso gerava anos com doze e treze meses. O calendário hebraico é um exemplo desse tipo de calendário. O calendário chinês também é lunissolar, mas não tem equinócio ou solstício como referência. O primeiro dia do ano chinês é aquele cujo o novilúnio mais se aproxima da data onde o Sol se apresenta a frente do décimo quinto grau da constelação de Aquário.

Tabela dos meses de todos os calendários tratados em tópico principal.

O Calendário Hebraico

Complexo relógio com Calendário Hebraico.
http://reference57260.vacheron-constantin.com/
Esta peculiaridade faz com que os anos do Calendário Judeu tenham 353, 354, 355 (12 meses), 383, 384 e 385 (13 meses). O Calendário Hebraico civil usado atualmente não é o mesmo usado pelos antigos hebreus. O Calendário Hebraico "raiz" tinha o Abib (nome babilônico Nissan) o primeiro mês. Neste mês ocorria datas importantes como a páscoa ("pessach" na pronúnica hebraica). No Calendário Hebraico atual Etanim (nome babilônico Tishri) é o primeiro mês, que tem como peculiaridade a impossibilidade de que se comece em domingos, quartas ou sexta-feiras. Isto explica porque o ano hebraico tem seis possibilidades de intervalos. Para que a condição do dia da semana inicial seja satisfeita os meses Maresvan e Kisleu podem receber um dia adicional para garantir o rito do ano seguinte.

A data inicial do Calendário Hebraico é referência a Criação do Mundo por Deus, que segundo o calendário ocorrida no ano 3761 AC. A tradição judaica adotou diz que foi no mês de Tishri, no primeiro dia, a Criação do Homem, permitindo uma grande contradição. Ao passo que segundo os relatos da Torá (nome do Antigo Testamento no Judaísmo) ocorrera no sexto dia da semana, ao passo que o calendário iniciou-se em uma segunda feira.

O mês complementar é inserido entre o sexto e o sétimo mês e é uma repetição do mês anterior. Nesses anos o sexto mês muda seu nome de Adar para Adar Alef e o mês suplementar é o Adar Bet, onde alef e bet são respectivamente primeira e segunda letras do "alfabeto" hebraico. O ciclo metônico é o período necessário para que as fases da lua se repitam na mesma data do Calendário Juliano. E são nos anos número 3, 6, 8, 11, 14, 17, e 19 deste ciclo que o mês suplementar é acrescentado.

Na data de publicação desta postagem o Calendário Hebraico encontra-se no seu ano 5777. Curiosamente este ano cheio de números sete é o ano em que empossou o Presidente Donald J. Trump, que fez o seu juramento aos 70 anos, 7 meses e 7 dias. A posse de Trump só foi possível graças a sua vitória no colégio eleitoral por 304 a 227, ou seja, 77 votos de diferença. O que é um prato cheio para teóricos da conspiração, ainda mais porque a independência de Israel foi proclamada quando Donald Trump tinha 700 dias de nascido. Que loucura não?

O Calendário Islâmico

O Calendário Islâmico é dos grandes calendários usados atualmente no mundo o único estritamente solar. Desta forma os meses variam de 29 a 30 dias e os anos de 354 a 355 dias numa média de 354 dias 4 horas e 24 minutos. Devido a defasagem de aproximadamente 11 dias com o calendário solar os meses voltam a se repetir nos mesmos terços das estações a cada 33 anos. Como é comum dos calendários lunares os meses começam próximo ao novilúnio com até 2 dias de atraso.

O calendário Islâmico teve seu início na data gregoriana de 19 de julho de 622, o primeiro dia do ano em que o profeta Maomé (Muhammad) fugiu de Meca para Medina. A fuga do profeta Maomé ocorreu em 27 de setembro do mesmo ano.

Datas para esta postagem

Adaptando as datas nos diferentes calendários para a forma brasileira de representação de datas temos:

Calendário Gregoriano: 12-03-2017.
Calendário Juliano: 27-02-2017.
Calendário Hebraico: 14-06-5777.
Calendário Islâmico: 13-06-1438.
Calendário Etíope: 03-07-1733.
Calendário Hindu: 21-12-1938.
Data juliana 2 457 825.

Referências


NASA. Calendar and their History. National Aeronautics and Space Administration, 2017. Disponivel em: . Acesso em: 27 março 2017.

NASA. Javascript Solar Eclipse Explorer. National Aeronautics and Space Administration, 2017. Disponivel em: . Acesso em: 27 março 2017.

OSBORNE, T. et al. A New and General Biographical Dictionary containing An Historical and Critical Account of the Lives and Writings of the Most Eminent Persons in every nation. 1ª. ed. London: Google E-books, v. VIII, 1762.

UNITED STATES NAVY. The Astronomical Almanac. The United States Naval Observatory, 2017. Disponivel em: . Acesso em: 26 março 2017.

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