sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Como se escolhe o presidente dos EUA?

Wederson Geovane de Paula, Lavras.

A cada quatro anos temos eleições para todos os cargos políticos do Brasil divididos em dois grupos de eleições, as eleições gerais, que elegem cinco cargos, e as eleições municipais que elege prefeitos e vereadores. No mesmo ano em que as eleições municipais ocorrem no Brasil também ocorrem eleições nos Estados Unidos da América para ocupar a Presidência da Federação e para um terço do Senado Federal Americano.

Presidentes vivos George H. W. Bush (pai), Barack Obama,
George W. Bush, "Bill" Clinton e "Jimmy" Carter.
Um pouco diferente das eleições na maioria das grandes repúblicas com turno único, nos Estados Unidos o presidente eleito não é necessariamente o candidato que obteve maioria ou pluralidade dos votos do eleitorado popular. Nos Estados Unidos o Presidente é eleito por maioria em um colégio eleitoral a mando dos eleitores.

Devido ao caráter federativo dos Estados Unidos as populações dos estados da federação decidem qual dos candidatos assumirá o posto maior. No ano de 1776 pelo Tratado de Paris o Reino da Inglaterra reconheceu a independência dos estados de Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island, New York, Connecticut, New Jersey, Pennsylvannia, Delaware, Maryland, Virginia, North Carolina, South Carolina e Georgia. Estes treze estados independentes formaram uma federação a fim de cuidar de assuntos necessariamente nacionais como tratados de comércio, organizar um exército entre outras.


​Depois de feita a constituição em 17 de setembro de 1787, a  mesma teve que ser ratificada por cada um dos estados membros, sendo concluída em 21 de junho de 1788. O artigo primeiro da constituição americana definiu que cada estado teria um número de representatives (representantes, equivalentes a deputados) na House of Representatives (equivalente à Câmara dos Deputados) proporcional a sua população, tendo o mínimo um representante. O mesmo artigo diz que cada estado teria dois senadores no Senado [Federal] independente do número de habitantes. Logo o Colégio Eleitoral teria o mesmo número de eleitores que o Congresso, isto é, a soma dos membros da House of Representatives e o Senado. A chapa vencedora naquele estado elegeria delegados para escolher o Presidente dos Estados Unidos da América posteriormente.

Atualmente os Estados Unidos é composto por 50 estados. O número de electoral votes (delegados) de cada estado pode ser observado na tabela abaixo. Note que o District of Columbia (Distrito de Colúmbia, distrito federal) mesmo não sendo um estado e nem tendo congressistas tem o número mínimo de delegados que um estado pode ter.

Estado
Delegados
Estado
Delegados
Alabama 9 Montana 3
Alaska 3 Nebraska 5
Arizona 11 Nevada 6
Arkansas 6 New Hampshire 4
California 55 New Jersey 14
Colorado 9 New Mexico 5
Connecticut 7 New York 29
Delaware 3 North Carolina 15
Florida 29 North Dakota 3
Georgia 16 Ohio 18
Hawaii 4 Oklahoma 7
Idaho 4 Oregon 7
Illinois 20 Pennsylvania 20
Indiana 11 Rhode Island 4
Iowa 6 South Carolina 9
Kansas 6 South Dakota 3
Kentucky 8 Tennessee 11
Louisiana 8 Texas 38
Maine 4 Utah 6
Maryland 10 Vermont 3
Massachusetts 11 Virginia 13
Michigan 16 Washington 12
Minnesota 10 West Virginia 5
Mississippi 6 Wisconsin 10
Missouri 10 Wyoming 3

A soma dos votos é 538 (435 representantes, 100 senadores e 3 delegados do DC) desde 1964, quando o estado de Hawaii passou a ter 4 votos, a Constituição diz que o candidato eleito deve ter no mínimo a metade inteira do total de votos mais um, ou seja 270 votos. Nos estados de Maine (2 distritos congressionais) e Nebraska (3 distritos congressionais) os votos do distrito em questão votam separadamente.

Quando não se atinge a maioria


Caso a maioria não seja atingida pelo colégio eleitoral a Câmara dos Representantes escolhe por meio do voto livre de seus membros o Presidente dos Estados Unidos dentre aqueles que obtiveram votos no Colégio Eleitoral. Isso ocorreu por duas vezes em 1800 e 1824, quando a foram eleitos T. Jefferson e John Q. Adams respectivamente.


A eleição de 2000


Por quatro vezes na história o candidato que obteve a pluralidade dos votos não foi eleito, mas recentemente em 2000. As outras três vezes foram em 1824, 1876 e 1888.

Na eleição em questão o candidato do Partido Republicano, George W. H. Bush obteve 50 456 002 votos (47.9%), enquanto o seu principal adversário do Partido Democrata, Albert Gore, obteve 50 999 897 votos (48.4%). O presidente eleito obteve 543 895 a menos, mas ganhou a eleição por 271 a 266 no Colégio Eleitoral. Um eleitor do DC absteve o seu voto em protesto a status de não-estado do distrito.

Pode-se dizer que a eleição foi decidida no estado da Florida, que a época possuía 25 delegados, hoje 29. A eleição na Florida deu 2 912 790 e 2 912 253 respectivamente a Bush e Gore. Uma diferença de 537 votos populares o que foi suficiente para que os republicanos voltassem à Casa Branca, novamente com um membro da família Bush.

O que esperar de 2016


As pesquisas nacionais até o momento desta postagem apontam em média 6% de vantagem para a candidata do Partido Democrata e ex-primeira dama, Hillary Clinton, com relação ao candidato do Partido Republicano, Donald J. Trump. Até o presente momento os grandes sites de pesquisa estatística e política garantem com uma razoável margem de probabilidade que Hillary Clinton tenha já 272 votos. Neste cenário mais favorável à candidata governista restam 260 ou 266 votos a Donald Trump, visto que a uma possibilidade que McMullin (candidato independente) atinja a pluralidade de votos no estado de Utah (6 delegados), onde Trump lidera.

Três estados encontram-se indecisos, são estes Iowa, Florida e Nevada. Para Donald Trump ganhar nesses estados é condição sine qua non para uma vitória no colégio eleitoral. Segundo o site Five Thirty-Eight, Clinton tem 81.2% de chances de ser eleita pelo Colégio Eleitoral, contra 18.7% de Trump. Por duas vezes, segundo o mesmo site, em 29 de julho (Clinton 49.0%, Trump 51.0%) e 25 de setembro (Clinton 54.8%, Trump 45.2%) as chances foram bastante próximas.  Para o site Electoral Vote, Clinton teria hoje 325, Trump 209, e Iowa estaria com a eleição indefinida.

Tanto Clinton quanto Trump enfrentam altas taxas de rejeição, o que surpreendentemente não transfere votos para os candidatos Garry Johnson (Libertarian Party), Jill Stein (Green Party) e McMullin. A campanha de Clinton sofre com questionamentos sobre sua saúde, vazamentos feitos pelo Wiki Leaks sobre o caso de Benghazi, o escândalo de que o alto escalão seu próprio partido estava manipulando as primárias a fim de dar-lhe a nomeação e não ao seu adversário correligionário, o socialista Bernie Sanders, e o desagradável rótulo de "desonesta" que carrega a anos bem explorado pela campanha de seu principal adversário. Donald Trump por sua vez sofre por acusações crescentes sobre abusos sexuais, semelhantes ou piores que os praticados pelo ex-presidente William "Bill" Clinton, marido de Hillary Clinton. Declarações polêmicas de Trump sobre imigrantes ao passo que tem colhidos votos do eleitorado mais conservador, que normalmente vota no Republican Party notavelmente conservador em questões sociais, e repelido votos de hispânicos e latinos, exceto no estado da Florida, onde parece ocorrer uma eleição a parte.

Se não bastasse a rejeição da imprensa e mídia pela renúncia ao politicamente correto praticado por Trump, ele enfrenta ainda rejeição do establishment do próprio partido. Não é possível saber se isso ajuda ou atrapalha sua campanha, visto que as instituições de maior descrédito nos Estados Unidos são o Congresso (leia-se políticos) e os meios de comunicação.

O sistema bipartidário de facto construído através do voto distrital para os membros da câmara baixa do legislativo federal, o sistema do colégio eleitoral e a renúncia ao politicamente correto de seu principal adversário tem colocado pelo menos um pé de Hillary Clinton novamente à Casa Branca, desta vez como líder máximo. O Partido Democrata está prestes a igualar o feito da década de 1980 do Partido Republicano, que ganhou três eleições seguidas duas vezes com Ronald Reagan (1980 e 1984) e depois com George H. Bush (1988), visto a dificuldade imposta a Donald Trump.

Apesar de ser uma política habilidosa, Hillary Clinton não é carismática como os dois últimos bem-sucedidos presidentes democratas, do qual de um compõe o gabinete como Secretária de Estado e do outro é esposa. Sua falta de carisma não justifica sozinha sua leve dificuldade em uma eleição que o destino resolveu-lhe facilitar. O próximo Presidente dos Estados Unidos irá indicar não somente um, mas três juízes da Suprema Corte que ditaram a configuração de sua maioria pelos próximos 40 anos, o que força os eleitores verdadeiramente conservadores a votar em Donald Trump mesmo que a contra gosto. O famoso colunista conservador e fundador da Prager University, Dennis Prager, disse que se os republicanos não ganharem esta eleição as próximas nove tornariam-se irrelevantes. Este "reboliço" se desenvolveu devido à possibilidade de Hillary Clinton nomear juízes com o mesmo viés ideológico que ela, cujo o termo "progressista" seria um elogio por parte dos liberais e conservadores, devido a Hillary Clinton se assemelhar ideologicamente mais a Sanders e Obama que Carter e o marido. Donald Trump sabe disso e continuará a usar a segunda emenda da constituição, que garante o inviolável direito do cidadão ao porte de armas, como arma (perdoe-me pelo trocadilho) de campanha.

Gostando ou não, Donald Trump é um fenômeno midiático e eleitoral. Como podemos observar no forecast do , as chances de vitória de Clinton e Trump parecem obedecer uma função composta por senos e cossenos que parecessem convergir às vésperas da eleição. E como se trata de probabilidade nenhum dos dois candidatos precisa de mais de 50% dela para vencer. Uma eleição que se mostra tão favorável a Hillary Clinton dá indicativos de que pode surpreender. E surpresas é o que as urnas mais tem nos feito, vide eleições parlamentares de Israel e Reino Unido, ambas em 2015, e o Brexit (2016).

Parte relevante das considerações que fiz neste subtítulo dependem da fidelidade das pesquisas eleitorais, que meu ceticismo impede-me de acreditar, independente do lugar de que elas venham. Que as eleições comecem!

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